O trabalho de tradução simultânea exige profundo conhecimento dos idiomas a serem traduzidos, mas não somente isso. É necessário também um bom desenvolvimento técnico, muito treinamento prático, capacidades emocionais, flexibilidade etc.
Embora nada se compare à experiência de estar em uma cabine de tradução simultânea, com as pressões relacionadas e eventuais situações extraordinárias, é necessário ter uma preparação elevada prévia a assumir este posto. É justamente aí que eu acredito que as dicas expostas em nosso site sejam interessantes no longo caminho a ser trilhado para atingir o ponto de ser um intérprete profissional.
Repetição ininterrupta de áudios no idioma original
O tema de hoje, shadowing, é muito conhecido no universo dos tradutores e intérpretes da Europa e dos Estados Unidos, porém não encontrei muita literatura em nossa língua nativa. Por este motivo, me permito uma tradução livre deste termo, que o defino como “acompanhamento” ou literalmente “sobreamento”, pois justamente o shadowing consiste na repetição ininterrupta de áudios no próprio idioma original, palavra por palavra, sem tradução. Ou seja, é repetir em inglês um áudio em inglês, repetir um podcast de espanhol no próprio espanhol e assim por diante
O “shadowing” é, assim, uma técnica de treinamento usada para aprimorar a interpretação simultânea. Envolve escutar um discurso na língua fonte e, simultaneamente, repetir ou sombrear o que está sendo dito, porém com um atraso mínimo, na língua alvo. Isso ajuda a desenvolver habilidades de escuta ativa, memória de curto prazo e velocidade de processamento mental, aspectos cruciais na interpretação simultânea. Ao praticar essa técnica regularmente, os intérpretes podem melhorar sua capacidade de ouvir, compreender e traduzir instantaneamente o discurso de uma língua para outra.
Alguns estudos apoiam o shadowing para melhorar as habilidades de tradução simultânea.
Yumiko Tateyama da Universidade do Hawaii menciona que o shadowing é um método válido para melhorar as habilidades de tradução simultânea ou interpretação, sendo obrigatório um alto nível de proficiência linguística tanto no idioma de partida como no idioma de chegada.
Porém, esta prática não é inconteste. Daniel Gile em seu livro “Basic concepts and models for interpreting and translator training” cita que alguns instrutores recomendam o shadowing, ou acompanhamento, como um exercício preparatório válido antes do estudo da tradução simultânea em si. Outros professores se opõem ao shadowing dizendo que ele é ineficiente e perigoso, pois supostamente ele alimenta a repetição com análise limitada. No entanto, Gile diz que atualmente não existem evidências ou experimentos que embasem qualquer uma das duas visões.
O shadowing se comprova eficiente na prática da interpretação simultânea
Particularmente acredito que esta é uma técnica válida, pois, no meu ponto de vista, o intérprete aprende a acompanhar os diferentes ritmos existentes em diferentes podcasts, palestras no You Tube, programas de rádio etc., e principalmente com uso de um gravador, vai aos poucos corrigindo os erros (atrasos, interjeições desnecessárias etc.). Ou seja, aprende a lidar com o ritmo presente em uma tradução simultânea, acostumando a falar algo sobre outra fala que precisará ser também repetida em seguida.
Recomendação importante
Aqui vale também uma recomendação para quem estiver iniciando. Cuidado ao selecionar os áudios que serão acompanhados. Audiobooks de publicações muito antigas ou de poesia, filmes antigos, matérias extremamente complexas e muito específicas, como cirurgias de pescoço, soldagem de silos na indústria de cimento etc. podem ser uma armadilha e fonte de desestímulo. Sugiro iniciar o shadowing de termos nas áreas de administração, marketing ou outras áreas mais “gerais”, com alta demanda de interpretação, embora isso seja uma opinião muito particular.
Fica aí a ideia e caso queiram compartilhar conosco as suas opiniões sobre o tema, não deixem de entrar em contato conosco por meio de nosso site ou de nossas redes sociais.